domingo, 11 de dezembro de 2011

O espírito da nossa época: o homem existencial

Cada época tem uma alma, um ritmo e uma estética própria.

Para investigar uma cultura antiga, os objetos desenterrados podem revelar não apenas um modo de vida do passado, mas uma espécie de personalidade gravada no design. Ao criar um mobiliário qualquer, uma loja ou edifício estamos participando da produção cultural do nosso tempo, o design competente tem esse poder, mesmo que estejamos fazendo algo absolutamente comum.

Olhar para nós mesmos e para a nossa sociedade ao redor é a tarefa de todos que criam. Tratores, cercas, pontes, copos e lojas são fragmentos do nosso tempo, são partes de nós. O melhor ponto de venda em nossa época precisa espelhar os desejos das pessoas ou o desejo do nosso tempo, mesmo que esse desejo não seja claramente definido.


Estar mergulhado em uma sociedade multicultural e cada vez mais globalizada torna a compreensão da nossa  época muito mais difícil. E se olharmos ao nosso redor não só observamos pessoas que consomem e produzem diversos tipos de estilos de design ligados ao passado ou de outras partes do mundo, como também podemos ver que novas linhas de pensamento estético vem e vão como uma velocidade capaz de tornar o que aconteceu recentemente como algo que já ficou obsoleto. Há realmente uma certa confusão no ar se comparada a linha histórica da evolução da arte e da cultura ao longo dos séculos.


Por exemplo, o que podemos observar nas décadas de 1950 e 1960 foi uma verdadeira explosão de criatividade despertada pelo ânimo do pós guerra e pelo entusiasmo com a sociedade de consumo em massa que estava se impondo de maneira avassaladora. A música Pop e Rock, a cultura Hippie e outras expressões marcantes desse rico período trazem um sentimento de nostalgia até os nossos dias devido a grande autenticidade e força dessa cultura.

Ao fazer essa leitura, voltado somente para entender o que nos tornamos e no que desejamos ser enquanto sociedade, vejo que agora o termo "multicultural" foi tão verdadeiro e que não seguimos mais uma linha coletiva. Nunca tinha me detido na idéia de que estamos nos tornando seres cada vez mais individuais e isolados, abandonando ou procurando negar comportamentos em massa. Enquanto a sociedade de consumo do século XX tratou de transformar cada movimento cultural em uma onda onde todos procuravam se anquadrar na energia de um grupo ou de uma década, acredito que atualmente estamos indo na direção contrária. Pessoas agora não costumam mais se rotular como parte de uma linha política ou de religião, o homem do século XXI está se tornando um pensador livre que navega de um lado a outro da cultura e do tempo com um clique de cumputador.

Para quem duvida desta tese, basta observar que a liberdade de ser e agir está tomando tal magnitide nunca antes sonhada que até mesmo conceitos universais de pudor ou de moral estão sendo colocada de lado pelas novas gerações. Jovens fazem coisas que nem seus pais mais libertos fariam, porém sem qualquer desejo de mudar a sociedade ou fazer parte de um movimento de protesto. Isso muda tudo o que conhecemos em termos de comportamento, desejos e interesses. Isso muda a forma como vemos o mundo.

A maturidade histórica do nosso século é comparável a maturidade do jovem que foi morar sozinho sem depender de ninguém. É como estar vivendo sozinho a sua maneira pela primeira vez, mas que não quer perder sua conexão com a família e amigos através das redes sociais do seu computador.

Se ontem sabíamos o que era certo ou errado parece que tudo isso simplesmente desapareceu. E o que é bom ou ruim, o que traz status e o que não traz, o que é felicidade e o que não é, também passaram de conceitos comuns de uma época, comunidade ou de uma família, para conceitos estritamente pessoais de cada um. Todo jovem tem sua própria filosofia de vida e concebe sua forma de agir, consumir e viver em família, mesmo que não se tenha alcançado nem mesmo a puberdade. Não me lembro em minha infância de qualquer criança pequena que soubesse qual seu estilo de vida preferido a ponto de contrariar os próprios pais, enquanto hoje vejo mais determinação e pesonalidade em um garoto de 8 anos do que em muitos adolescentes da minha geração.

Pontos de venda que entendam esse novo tempo podem ser tornar notáveis. Observem que respeitar a individualidade das pessoas está se tornando a nova fronteira do que é velho para para compreender o que está vindo.

Os minicarros expoxtos no Salão de Tókio de 2011 certamente são uma espécie de ícone estético desse século, finalmente cada carro tem realmente uma identidade própria e seu tamanho reduzido já dá a idéia de que tipo de organização familar está surgindo, com poucos passageiros e com o banco solitário do motorista na fileira da frente sempre conectado a um celular multimídia.

Personalizar, respeitar diferenças, customizar os serviços de acordo com o consumidor, oferecer conectividade, sair do lugar comum, oferecer o auto serviço não mais como motivo de praticidade mas sim como espaço livre para o consumidor escolher solitariamente. Trazer a diversidade e a multiculturalidade são os ares e o espírito do nosso tempo que talvez o filósofo Jean-Paul Satre tivesse antecipado com a doutrina do Existencialismo. Ver o homem atual como um existencialista voltado apenas para sí próprio, mas que não quer perder sua conectividade com o mundo a cada momento, deverá estar implícito em tudo o que produzimos, desde objetos que usamos até nos veículos, edifícios e nas lojas que projetamos.

Um comentário:

Anônimo disse...

A cultura hippie marcou uma época muito importante na vida dos meus pais, e eles ainda tem roupas e gostam de usá-las.
não se usava lentes de contato porque os óculos de cores estavam de moda.