sábado, 27 de agosto de 2011

Viabilizando melhores carreiras na arquitetura

Me intriga a quantidade de valorosos colegas que cursaram graduação mas que atualmente não seguem a carreira de arquiteto. Isso não é algo pontual e com certeza estamos participando de uma grande disorção na colocação do papel da arquitetura em nossa sociedade.

Não me julgo apto a dar a palavra final a respeito desse tema, mas como arquiteto esponho aqui humildemente minhas profundas convicções.

É certo que a arquitetura brasileira já viveu seus momentos de glória quando a arquitetura moderna despontou por aqui com seus traços originais, revelando ao mundo e aos próprios brasileiros a identidade nacional da sua inovadora e genial plasticidade. No plano do ensino são discutidos diversos temas que fizeram e ainda fazem parte das nossas maiores influências em todos os tempos. Conhecer a história é fundamental.

Mas falar da própria arquitetura em desequilibrio com o conteúdo prático necessário ao exercício cotidiano da profissão levou a arquitetura a ser um serviço restrito, com discutível penetração no amplo e vibrante cenário da construção civil.

Criamos a idéia distorcida de que a arquitetura está voltada para a concepção, em detrimento ao longo e complexo desenvolvimento de qualquer projeto, para não dizer que poucos arquitetos atuam ou não tem a mínima base para atuar na execução de seus projetos, ficando a impressão que a arquitetura é uma profissão de  status com a autoria do projeto.

A arquitetura deveria realmente se focar em prestar serviços necessários, corriqueiros e insubstituíveis para a sociedade, sejam para pessoas e empresas de maior ou de menor poder ou importância. Há um campo inesgotável para se atuar que se amplia a cada momento em cada cidade e em cada ramo de atividade para o arquiteto que sabe desenvolver um bom trabalho do início ao fim dos processos.

Hoje um arquiteto não se gradua com o conhecimento instrumental mínimo para exercer sua profissão, a não ser que já tenha trabalhado de forma intensiva na área. Nunca conheci um arquiteto recém formado que tivesse aprendido na graduação todos estes temas básicos reunidos: desenho técnico, cobrança de honorários, licenças de obra, preenchimento de ART, estudo do código de edificações e estudo de viabilidade econômica.   

Mas sempre haverá quem diga que o papel do arquiteto não é realizar estes serviços mas sim fazer a gestão de outros profissionais ou criar. É por isso que recebo muito frequentemente currículos de arquitetos recém formados solicitando um cargo de chefia sem ter conhecimento ou experiência alguma para tal desempenho. .

Analisando por exemplo o papel de outros profissionais de nível superior vemos que engenheiros, médicos, biólogos, jornalistas, advogados e até mesmo profissionais de nível médio como técnicos são imprescindíveis na grande maioria das empresas onde sua atividade é desempenhada. No caso da arquitetura, visualizando a totalidade da nossa sociedade e das empresas envolvidas com obras e processos de investimento na construção, é notável a quantidade de empreendimentos de pequeno a grande porte que não contam com um arquiteto sequer. A imagem ou a realidade que se tem é que os arquitetos trabalham apenas para as elites ou em emprendimentos de maior relevância visual nas grandes capitais. O arquiteto parece ter conquistado apenas o posto daquele que sabe fazer coisas esteticamente agradáveis.   

E olhando mais ao redor vemos que um profissional recém formado de algumas outras profissões já saem da faculdade com salários iniciais expressivos bem maiores e do que na arquitetura. Enquanto o país cresce a área da arquitetura não se desenvolve na mesma medida, ou pela falta de profissionais qualificados ou por falta de campo profissional.  

Felizmente a ampla formação do arquiteto em humanas e exatas o credencia para muitas outras profissões, como fotógrafos, designers, gerentes na área de humanas, executivos de negócios imobiliários e muito mais.

A classe deveria compreender ou pelo menos começar a discutir que o arquiteto deve ser apenas mais um prestador de serviços voltado para o mercado e que deverá participar do desenvolvimento do país e dos processos de investimento na construção civil ao lado dos demais profissionais, não se auto intitulando apenas criador, mas aquele que desenvolve e operacionaliza a solução do seu próprio trabalho, sempre buscando produtividade, eficiência e tecnologias atualizadas nesses tempos de dura concorrência e globalização.

Mas essa radical mudança cultural deveria começar pelas entidades de classe e entidades de ensino, o que provavelmente não ocorrerá tão cedo, visto que ultimamente ao invés de buscar a inclusão competitiva e dinâmica os arquitetos da política buscam se isolar e se elitizar ainda mais com a fundação de mais uma entidade de classe, o CAU, cuja bandeira tem sido a cobrança de honorários. 

Minha recomendação para escapar dessa distorção é que individualmente cada arquiteto procure seu sucesso profissional e o desenvolvimento de sua carreira ou de sua empresa de forma a se tornar insubstituivel nos processos aos quais está inserido, gerindo e operacionalizando com qualidade, com conhecimento técnico, objetividade e competência, tudo isso em primeiro lugar. Em segundo lugar deixemos de lado a idéia de que a justificativa da contração do arquiteto é a criação.

Com certeza existe uma lacuna enorme em nossa sociedade a ser preenchida e descoberta pelos arquitetos. Os que descobriram isso não dão conta de atender toda a demanda. Se houver criatividade e beleza melhor.