segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A dor do financiamento


Quem trabalha com arquitetura de varejo começou a perceber que mais e mais empreendimentos varejistas estão sendo criados por meio de financiamentos bancários. Como toda tendência no varejo há inicialmente uma percepção imprecisa de sua verdadeira dimensão e as suas consequências.

O empresário brasileiro da micro, pequena e até da média empresa finalmente está saindo da velha cultura da expansão orgânica sem nenhuma alavancagem para uma mentalidade mais competitiva e mais dinâmica de acordo com a velocidade que o mundo globalizado impõe.

Mesmo diante dos abusos de emissão de ativos que cairam como uma fila de dominós após o estouro da bolha imobiliária de 2008, os números provam que aqui nosso sistema financeiro está saudável e há muito espaço para a larga expansão de crédito que é necessária para alimentar os investimentos, capazes de tornar o crescimento econômico sustentável a longo prazo, tanto pelo lado do consumo quanto pelo lado dos investimentos em infra-estrutura e produção. Portanto estaríamos por algum tempo imersos em um círculo virtuoso de investimento e consumo com inflação controlada, ou aparentemente o cenário perfeito para inevstir.

Além desse ambiente positivo, temos também várias opções de financiamento para amplas faixas de valores com juros historicamente atraentes (não direi isso a um extrangeiro). Vamos exemplificar a linha do BNDES Automático, FINAME, Cartão BNDES entre muitas outras oferecidas por vários bancos em apoio ao varejista, sem contar as opções regionais, como por exemplo o FNO oferecido pelo Banco da Amazônia e por aí vai.

Até agora tudo parece perfeito mas pouco escutei ou li na imprensa sobre alguns problemas que valem a pena examinar e que só a experiência própria soube mostrar nestes últimos anos.

1-Os prazos prometidos pelos gerentes dos bancos são irreais para a liberação dos financiamentos. Alguns orientam que demora algo em torno de 60 dias, mas podemos considerar pelo menos 3 vezes mais que isso quando a linha de crédito estiver condicionada ao exame de um projeto (arquietônico e financeiro).

2-Os varejistas muitas vezes não contratam profissionais de arquitetura e engenharia com o devido conhecimento e experiência para lidar com as intermináveis listas de exigências dos bancos para a análise do projeto, considerando que a maioria dos profissionais de projeto não é contratada para realizar o seu planejamento, além de entregar um projeto detalhado, deverá gerenciar orçamentos de mão de obra e materiais, cronogramas físicos e financeiros, licitações de equipamentos, administração dos projetos técnicos, entre outros detalhes que tornam-se importantes no caso de um financimento ligado ao projeto.

3-Alguns varejistas quando recorrem pela primeira vez ao financiamento de uma obra não possuem contadores ou administradores com o hábito de montar o projeto financeiro exigido por algumas linhas de financimento, que deve ser feito com uma formalidade específica. O varejista só vai descobrir isso após um tempo precioso, levando por vezes a sua desistência.

4-Muitos varejistas simplesmente não conseguem chegar a um projeto detalhado qualquer, finalizado e orçado porque não tem uma cultura de organização ao contratar processos de projeto, pois muitos ainda possuem o hábito de fazer mudanças de projetos a qualquer momento por sugestão de fornecedores ou querem decidir em etapas e negociar valores na última hora, sem contar que muitos não tem o hábito de desembolsar altas somas para a relização de todos os projetos envolvidos, arquitetura, instalaçães elétricas, projeto hidro-sanitário, estrutural, prevenção e combate a incêndios, sondagem do terreno e levantamento topográfico, entre outros. Somente projetos aprovados na instância municipal, finalizados e completos com toda documentação podem ser finaciados pela maioria das linhas de longo prazo.

Por isso, alerto para a realidade que apenas fazer um projeto é cada vez mais insuficiente para se iniciar uma obra.